segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Manifesto Da Esperança

O Manifesto Da Esperança
Por Uma Sociedade Global Solidária

Jayme Fucs-Bar


Kibutz Nachshon Israel - Janeiro 2007


Editoração e organização literária – Professor Elias Salgado


Numa entrevista sobre globalização e ecologia, o sociólogo francês, Edgar Morin, definiu de forma muito especial, o que é a globalização..
“A globalização é uma nave espacial movida por quatro motores associados e, ao mesmo tempo, descontrolados: ciência, técnica, indústria e capitalismo”.

O Grande desastre dessa nova era pós moderna, foi determinarmos já nos finais dos anos oitenta que "estamos na era do fim das ideologias, "uma era de grandes esperanças". " O fim da História" Fukuyama .
Essa determinação é parte dessa nova ideologia.Ela vem criando entre nós um conceito ilusório,de que a ciência e a tecnologia movidas pela economia global, iriam trazer a felicidade e o bem estar da humanidade, recriando uma nova sociedade,onde todos seriam parte dessa riqueza.
Os resultados dessa afirmação tem nos provado o contrario. Nestes últimos vinte anos , de uma lado a globalização nos levou a grandes avanços tecnologicos e científicos. Porém, essa revolução global ,está dominada pelos " fundamentalistas do mercado". Eles usam os meios da globalização e de seus mercados como uma religião onde "Deus" é o dinheiro, e não existem regras ou normas para sua falta de escrúpulos na busca do lucro.
Esse "fundamentalismo do mercado" é que vem levando à desumanização do ser, e ameaça o planeta com sua destruição ecológica; causando o esgotamento das fontes de riquezas e aumentando a fome e a miséria .
Essa prática econômica imoral, ameaça a nossa própria condição como seres humanos no planeta, criando um abismo social profunto.
O Relatório de Desenvolvimento Humano, do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 2006 mostra que :
" quase 2 milhões de crianças morrem todos os anos por falta de um copo de água limpa e banheiro em suas casas. Um bilhão e duzentos milhões de pessoas sobrevivem com menos do que o equivalente a $ 1,00, e 1% dos ricos do mundo tem a renda equivalente a dos 57% dos mais pobres do planeta , e 10 milhoes de pessoas morrem por ano por falta de assistência médica".
A conturbaria social, a competição sem limites ,e a pressão social da sociedade global, estão criando novas identidades nos seres humanos:estamos perdendo o parâmetro da pertinência de tempo e de um marco expecifico. Podemos hoje, pertencer é ao mesmo tempo não pertencer a nada. Somos indivíduos solitários , dos quais, o grande amigo é uma tela de computador e o toque sensual de seu teclado.
Essa é a forma de nos integrarmos no mundo global de grupos e sociedades virtuais, reais e ao mesmo tempo imaginários ,onde os campos do real e o virtual se confundem dentro de nossa realidade e conciência .
Nossas mentes estão integradas num todo e absoluto sistema de comunicações , rápido e eficiente dando a sensação ilusória , de termos em nossas mãos o poder e o dominio de extraordinárias riquezas.
Sonhamos de certa forma acordados, como se tudo estivesse ao alcance de todos.Porém, nada nos pertence , somente o direito de ter de imediato uma grande ilusão virtual.
Nunca tivemos tanta comunicação, nunca fomos tão pobres no diálogo entre seres humanos .O ser Humano atrofiou a cultura de dialogar, de ouvir, de respeitar opiniões e de ter o direito de ser diferente.
Dentro desse processo de massificação global, seres humanos criam mecanismos de defesa . Muitas vezes inconcientemente, esses mecanismos são a busca de refúgio contra o sentimento de caos e de vazio que sentimos nesta sociedade.
Tais mecanismos geralmente, nos levam a procurar um abrigo temporário dessa realidade,algo que nos dê um resultados imediatos para lograr fugir desse mundo descontrolado.O consumo do álcool e das drogas, é sem dúvida uma dessas manifestações de fuga.
Queremos sair da realidade desse o mundo que nos rodeia pelo menos por um determinado tempo.Isso quer dizer, sair desse tempo real do agora e se desligar do caos desse mundo .Se desconectar por algumas horas se tornou uma necessidade básica da maioria das pessoas do planeta, onde estamos constantemente conectados .
Essa grande necessidade inconsciente de se desconectar do caos, de parar o tempo por algumas horas ou mesmo por alguns minutos, vem sendo explorada não somente pelo grande e prospero mercado do narcotráfico , e pela indútria de bebidas alcoólicas. Ele vem sendo explorados de forma cinica e imoral, também,pelos meios de comunicação e a propaganda em peral. Seres humanos são produtos do mercado.
Essa dependência fisica e psicológicas coletiva, vem criando uma geração domesticada e alienada da possibilidade de ter um sentido maior sobre a essência de suas vidas e sobretudo, criando uma juventude sem esperança, caracterizada por uma alienação coletiva, nos levando a cultura do conformismo e do pessimismo " Assim é o mundo nada podemos fazer" esse determinismo conformista de aceitar a realidade e o “ destino do caos” é destrutivo para nossa condição de sobrevivência neste mundo .

Essa grande "Alienação coletiva" também se manifesta na forma de pensar e agir na sociedade global: nos comportamos como máquinas de consumo.Somos um produto, que veste as mesmas roupas,ouve as mesmas músicas,assiste aos mesmos programas de TV. Compartilhamos e consumimos os mesmos produtos.
Sem entendermos muito, nos tornamos escravos de um sistema que nos determina uma cultura de comportamento regida por uma pedagogia de massificação generalizada.
Estamos domesticados a não se rebelar, O sistema consequiu minimizar a luta da classe dos trabalhadores, criando uma estrutura de sindicados divididos onde a maioria das lideranças sindicais está governada e atrelada aos patrões. Criou-se um sistema de contratos individuais e firmas de importação, de exploração de trabalhadores estrangeiros-os novos escravos dessa decada-vivem sem direitos sociais, sem dignidade.

Os governos abriram mão das responsabilidades para com seus cidadões, de garantir-lhes serviços sociais ,educação ,saúde, e bem-estar social para todos.As estruturas sociais estão sendo substituidas pelas As ONGs , e as instituições filantrópicas , mesmo com muita boa intenções jamais esses organismos poderão substituir a responsabilidades social governamentais .

Se falamos de alienação coletiva,devemos citar também as estruturas oficiais da educação da sociedade . Estas estruturas,cada vez mais, se transformam nas sociedades globais, em grandes super mercados de ensino, onde a sociedade determina a seus educadores “depositar” seus conhecimentos como um "bancário " * Freire.
A função desses "conhecimentos", desses "saberes", está simplesmente relacionada às necessidades de um mercado competitivo,à luta por um bom lugar na sociedade disponível a poucos . O aluno é um número. Seu valor depende de uma boa nota escolar .
"O ensino fornece conhecimento, fornece saberes. Porém, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. E sabemos que os maiores problemas neste caso são o erro e a ilusão". * * Edgar Morin. Os sete saberes necessários à educação do futuro 1999 Unesco

A escola para muitos destes alunos é um grande sofrimento. É impossível gostar de estudar matemática, física,biologia,história etc...; onde a estrutura do ensino não tem nenhuma preocupação de relacionar o ensino como parte pratica e integral de nossas vida.
A escola não busca ensinar e a construir atravez do conhecimento e do diálogo.

A escola é mais do que um objeto das necessidades do mercado global, em muitos casos a escola é um exemplo da realidade social do planeta,onde se manifestam a violência e a falta de segurança.
Esta realidade global de caos, deu origem às reações e sentimentos de rebeldia e protestos contra a globalização,. não somente dos grupos ecológicos e ativistas convencionais da antiglobalização, como Green Peace ou Friends of the Earth e outros. Esses grupos ecológicos procuram se organizar no campo politico e no ativismo militante contra a globalização; se manifestam na procura de exigir da sociedade que crie um programa de ação mundial para a humanidade ,onde haja leis e restrições ao caos do planeta. Esses grupos são boicotados, perseguidos ,e muitas vezes ameaçados,pelos poderosos grupos de interesse.
Consequência disso, vem como opção, o fundamentalismo religioso internacional, que de forma assombrosa e apocalíptica, vem se tornando um dos maiores ativistas ,e militantes contra os " fundamentalistas do mercado"e a globalização. Esse processo se verifica no surgimento de diversos grupos e comunidades de caráter "religioso" onde o caos social,a convulsão e a destruição das estruturas morais e éticas da sociedade, levaram ao fortalecimento dessa realidade e nos revela um dos grandes dilemas dos tempos pós modernos: de um lado, estamos no auge da revolução cibernética e tecnológica .E ao mesmo tempo convivemos com o fenômeno da desenfreada procura da religiosidade, e sobretudo a formação e o fortalecimento de organizações e paises de caráter totalmente regilioso.

Estas comunidades, e países tem como objetivo claro, se isolar da sociedade em geral, criando sua propria "sociedade alternativa" para se defender da influência e dos valoresda sociedade global, usando todos os meios para se "proteger" .

Estamos num mundo de "choques entre civilizações " e de certa forma também, de choques entre dois conceitos fundamentalistas de civilização: de um lado o fundamentalismo religioso liderado pelo Irã e Al-qaida e do outro, o fundamentalismo de mercado liderado pelos EUA e as grandes multinacionais.
Nesta disputa, os fundamentalistas estão dispostos, a usar todos os recursos para alcancar seus objetivos sagrados:de um lado a propagação das guerras e da exploração econômica e social, e do outro, o terrorismo internacional, a violencia generalizada, o fanatismo e o ódio ,envolvendo o mundo numa ameaça núclear de consequências inimagináveis.


Os Estados-nações continuarão a ser os atores mais poderosos nas questões mundiais, mas os principais conflitos da política global ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As guerras civilizacionais serão as batalhas do futuro.
*Samuel Huntington Clash of Civilizations 1996

A sociedade global vem perdendo seus valores básicos, ameaçando a democracia, fortalecendo o fundamentalismo religioso e o neofacismo.
Esta sociedade- principalmente representada pelos seus gobernantes-ao invés de ser o exemplo para seus cidadãos ,é modelo de corrupção, excesso burocrático, má administração , violência parlamentar; de políticos incompetentes de clientelismo e máfias estatais
.Isso faz parte do conjunto de sintomas de uma estrutura sócio-política enferma ,que não pode ser um exemplo moral e ético para as novas gerações , uma vez que não possibilitará que se criem as bases de uma cultura de valores dignos.

A globalização é sem dúvida uma nova revolução e seus efeitos estão sendo sentidos aos poucos em toda a humanidade. Estamos de um lado,ainda presos aos conceitos do nacionalismo da revolução francesa, da revolução industrial, da economia nacional, da pátria e da cultura nacional,e por lado, vivemos num mundo global sem fronteiras com uma economia e cultura globalizadas.


"Essa revolução global e sua economia é no momento uma grande e desordenada nave espacial que vaga pelo espaço do planeta terra, deixando uma grande rastro de destruição" Edgar Morin entrevista no Le Monde 2002

Mesmo que muitos de nós estejamos eufóricos e cegos com o brilho dessa revolução e suas mudanzas; necessitamos acordar dessa ilusão antes que ela se torne um grande pesadelo para a humanidade.
A economia da globalização e sua sociedade desordenada, precisam de leis planetárias ,que possam criar uma nova alternativa de sociedade global-alternativa esta,contrária a desumanização do ser humano e a consequente destruição do planeta

Para podemos enfrentar esta realidade,é necessário um radical processo de mudanças na estrutura da economia global , criando uma economia solidária, melhorando a distribuição de bens privados e públicos; amparando as redes de segurança social e impondo regras, que sejam consequência de uma real preocupação com os menos favorecidos, e que contemplem os investimentos necessários no plano social e de meio ambiente .

"Economia Solidária constitui o fundamento de uma globalização humanizadora, de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos da Terra seguindo um caminho intergeracional de desenvolvimento sustentável na qualidade de sua vida" ...
*Luis Razeto Economia de solidariedade e organização popular 1993


Para construir de fato uma sociedade global de economia solidária,é preciso criar movimentos políticos ativos. É preciso estar presente nos processos democráticos de cada país , para conquistar espaços políticos que possibilitem realizar mudanças estruturais na sociedade global no âmbito regional e mundial.
Para isso é de prioridade neste processo, incentivar a educação como forma de levar a concientização dos seres humanos para a participação politica ativa em todos setores da sociedade, criando projetos de cooperação e de solidariedade entre grupos de pessoas, nos bairros, nas fabricas, nos campos , nas comunidades,escolas, instituicoes etc.
Esses projetos são manifestações práticas de vivência e aprendizado.É a forma de provar como é possivel dentro do próprio capitalismo global, criar alternativas sociais e economicas diferente.
Esse processo de aprendizagem e vivência é o meio de concientizar aos pequenos grupos,da necessidade de se organizar e criar pequenas comunidades de estruturas cooperativistas de economia solidária na cidade e no campo.
Isso quer dizer,se organizar em pequenos grupos de pessoas num mesmo edifício ou numa mesma rua do bairro .Criar comunas de jovens estudantes universitários, criar comunidades no campo e nas pequenas cidades, e fazer, na prática,suas vidas estruturadas num economia solidária.
Se isso acontecer serão estas pequenas comunidades, comunas e grupos,os militantes naturais de atuação politíca e social dentro da sociedade e de todo planeta,dando assim, um poder maior de organização, ampliando cada vez mais novos círculos formando uma grande “teia da aranha”, que comece de um pequeno círculo de pessoas e grupos e se espalhe por todo o planeta.

Essas estruturas ativas de cooperação e de solidariedade criarão um novo movimento político e social no planeta .Criarão redes nacionais e internacionais identificadas., Gerarão estratégias de atuação política e de ajuda mútua no combate aos fundamentalistas da globalização .
Existe hoje uma necessidade vital, de se organizar a nível mundial ,e lutar pela humanização do planeta . Precisamos voltar às ruas,não mais como nações isoladas de suas realidades, mais sim, como cidadãos do mundo.

” Não faz muita diferença o que as pessoas são,se elas fazem parte de um sistema elas irão funcionar da maneira que o sistema dita que funcione,Dali em diante fiquei mais preocupado com mudanças estruturais do que mudar o coração das pessoas”. *Myles Horton caminho se faz caminhando 2003

A busca de soluções para conflitos humanos se deve a um processo de concientização do seres humanos.Para que isso ocorra, precisamos criar espaços para dialogar.
Dialogar quer dizer pensar em conjunto sobre nossa condição de seres humanos .E somente através do diálogo coletivo-em pequenos e grandes grupos - é que poderemos superar a massificação e os vícios do individualismo, da competição e do consumismo já bastante enraizados em nós. Este é o caminho mais curto para, se criar uma nova consciência coletiva geradora de novos valores.
Somente através de tal dinâmica de atuação – a do diálogo aberto e conjunto -, será possível lograr tal nível de consciência coletiva, que leverá a grande maioría a se mobilizar e atuar de forma efetiva contra o caos da economia global.


.A conciência adquirida no dialogar, é que nos posibilita uma nova identidade como seres humanos. Somente conscientizados e identificados é que podemos atuar no mundo como guardiões contra as ameaças à nossa própria existencia.


Identidade é a procura de um constante dialogo com nossas forças interiores . É não aceitar o que nos impõe a sociedade global como única realidade. Precisamos saber nos perguntar e não ter mêdo de procurar as respostas que nos libertem do conformismo,e da apatia ,para que possamos lutar e nos manifestar pela humanização do ser .



Nós seres humanos dominamos as ciências, desenvolvemos alta tecnologia.
Porém ainda somos seres primitivos ao dialogar com nossos pares. Ainda estamos em nossas mentes, presos ao medo, ao determinismo do sistema imperante na sociedade global.
Neste estado primitivo de desconcientização ,de massificação,é que nos tornamos desumanos e destruidores .E este estado letárgico de ser está nos levando levando a cegueira e ao delirio de crer em governos e lideranças que odeiam seres humanos por serem diferentes. Que nos fazem acreditar num Deus egoísta , violento e ameaçador,e nos impingem, uma ideologia de poder de guerras e dominação; nos semeam o racismo, o antisemitismo, e o fundamentalismo suicida.Governos que produzem a FOME, a miseria e a morte devastadora.Tudo isso legitimado por um tipo de codigo ético-moral que se dá o direito de trucidar ,explorar, destruir,humilhar aos outro em nome da pátria, da religião e do dinheiro.

Precisamos desenvolver uma nova sociedade Alternativa , com uma conciênçia de que somos cidadãos plenos desse planeta .Que somos co-responsáveis por garantir o bem-estar social de todos seres humanos, dando a todos o direito a educação a saúde, e a uma melhor participação nas riquezas por nós produzidas.
Precisamos criar novas regras e leis mundiais de mercado, colocar em prática um programa de restauração do planeta que estanque já a destruição ecológica.em andamento.

Cabe a cada um de nós lutar pelo direito à vida, pelo direito de viver num mundo ecológicamente saudável, mais humano,mais justo ,mais solidário.
Não podemos aceitar esse conformismo generalizado essa falta de esperança. Devemos nos concientizar dos nossos direitos no planeta Devemos buscar a essência da vida como Paulo Freire bem declarou “ Estar no Mundo com o Mundo”. E acrecentaria e não no mundo contra o mundo.

Seremos no futuro uma nação planetária. Cidadãos do mundo, que se expressarão com culturas,tradições e idiomas diferentes,porém terão uma bandeira em comum a bandeira do planeta Terra, onde o lema deverá ser o bem-estar da humanidade.



Jayme Fucs-Bar

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